Sentado na areia pensou
foi,
era o mar que o levava,
esculpindo nova escultura,
na teia,
da água.
Não há pensar que uma onda,
no mar
não desmonta, derrete e abala.
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
quarta-feira, 7 de maio de 2008
SECO
Lá onde água não tem fim nasceu Acaso,
homem de nenhuma origem,
destino
raso,
Mário, Marinho, Acaso.
Mário, Marinho, Acaso.
Mar de pequenas conchas moluscadas de ilusões,
miragem de areia, luz e ar
Lá
onde há água
mas nenhum
solo
de alguma,
qualquer matéria.
qualquer matéria.
a se pisar,
e ser pisado.
e ser pisado.
segunda-feira, 17 de março de 2008
SOPRO
Vindo de outro lugar, um mundo vago, soprou no ouvido dele algumas palavras. Aos 70 veio o labirinto, a tontura, o devaneio. Esquecer, lembrar. Esquecer para lembrar, lembrar para esquecer. Recorda agora o sopro no pé da orelha: foi amor...e evaporou-se ela, junto com ele.
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008
Nem cá nem lá
Aqui. Entre as bolas de um orgão sou o rei de Capucho com meu elmo glandioso. O que vi ou o que filmo ajustado ao meu tripé ou chapéu baixo, nenhum cinema exibiu! Que sou eu? Pergunto! Eu, meu periquito, ou meu chibiu?
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008
96 ANOS
Inexisto.
A lembrança não é mais matéria.
Íris, Isis, Exis-ter, Exis-ser, Existir.
Tenso,fim da espera.
Não ter para onde ir.
De onde vim.
Para onde vou.
Não estou para mim.
Meu ser voôu.
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008
ONTEM
Não sei onde caiu tua sombra. Dentro dela vi outro nome. Recomeço. Não sei onde cai, tua sobra. Fora dela outro pronome: minha. E as duas penumbras de mãos dadas a contemplar um sol. Um só.
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008
PONTO G
UM ESTOURO DE CHAMPAGNE
A ROLHA BATE NO TETO
O VINHO ESCORRE ATÉ A GARGANTA
FRISANTE NOS LÁBIOS,
MADURO, AGORA DECANTA
POR NOVE MESES, FETO.
A ROLHA BATE NO TETO
O VINHO ESCORRE ATÉ A GARGANTA
FRISANTE NOS LÁBIOS,
MADURO, AGORA DECANTA
POR NOVE MESES, FETO.
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008
BURACO DA AGULHA
Pelo furo da agulha passei um fio
de tempo.
Quando puz a linha no rio,
pesquei um pensamento:
Sou peixe,
o mundo, aquário,
cosendo meu momento.
de tempo.
Quando puz a linha no rio,
pesquei um pensamento:
Sou peixe,
o mundo, aquário,
cosendo meu momento.
sábado, 9 de fevereiro de 2008
VELA DOS SEIS ANOS
Uma vela incorpórea de choro e de vento,
comemora os seis anos da filha, agora.
comemora os seis anos da filha, agora.
Chama acesa no meu pensamento,
não sabe se ainda te chamas...Dora.
Ao Dia do Teu Nascimento,
aos 513 dias de desaparecimento,
não cairás no esquecimento,
teu pai é Jó, é Jonas, é filho do tempo,
Dora Mendes Golfeto
aos 513 dias de desaparecimento,
não cairás no esquecimento,
teu pai é Jó, é Jonas, é filho do tempo,
Dora Mendes Golfeto
terça-feira, 5 de fevereiro de 2008
JOÃO-DE-BARRO
Minha casa é no morro,
na casa-verde moldei, com o bico,
meu galpão,
com o barro turvo,
de um rio morto,
que em meu ninho
ressuscita em vida,
e corre curvo.
Nasci nas Minas,
no mato geral das caatingas,
na folhagem semi-fusa do serrado,
na sincopa da mata me deram mamado.
Na floresta tropical,
morei de aluguel, num bambuzal,
Trouxe de lá meu tronco, meu couro, minhas meninas,
minhas alegrias, minhas penas, minhas moringas.
Quando a sede ataca,
delas arrebato água,
se o peito pia, canto,
bato no couro e no barro cozido,
e com o pão-da-alma, no ouvido,
sacio a fome, de passarinho,
viro homem,
e se da pena,
faço a tinta,
sou menina.
Quando cai a tempestade
na capital,
vem a lembrança da primeira casinha,
escorrida, caída, mal apoiada no coração,
num galho adolescente de guria.
Então,
a chuva leva o barro
do galho pro rio,
desfaz João,
emudece seu pio.
Sem teto,
no hotel do viaduto,
dorme a espera do sol de verão,
pra tirar o barro do asfalto,
e nos braços de outra árvore florida
apoiar seu peito em nova canção.
na casa-verde moldei, com o bico,
meu galpão,
com o barro turvo,
de um rio morto,
que em meu ninho
ressuscita em vida,
e corre curvo.
Nasci nas Minas,
no mato geral das caatingas,
na folhagem semi-fusa do serrado,
na sincopa da mata me deram mamado.
Na floresta tropical,
morei de aluguel, num bambuzal,
Trouxe de lá meu tronco, meu couro, minhas meninas,
minhas alegrias, minhas penas, minhas moringas.
Quando a sede ataca,
delas arrebato água,
se o peito pia, canto,
bato no couro e no barro cozido,
e com o pão-da-alma, no ouvido,
sacio a fome, de passarinho,
viro homem,
e se da pena,
faço a tinta,
sou menina.
Quando cai a tempestade
na capital,
vem a lembrança da primeira casinha,
escorrida, caída, mal apoiada no coração,
num galho adolescente de guria.
Então,
a chuva leva o barro
do galho pro rio,
desfaz João,
emudece seu pio.
Sem teto,
no hotel do viaduto,
dorme a espera do sol de verão,
pra tirar o barro do asfalto,
e nos braços de outra árvore florida
apoiar seu peito em nova canção.
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008
PODÃO
Pelo buraco do barraco, pau-barro-sala-quarto do Jardim Anhangüera, seu Podão vê a cana queimar a noite e lavar o céu. Amanhã trabalho em dobro, chuva janeiro veraneia, vem na veia, sol vermelho de dia derruba a noite e qualquer mato destelha. Corta a barba com a navalha. Torce para que aquela chuva caia e apague o vermelho tempestade da caldeira do canavial. Chuva veio há muito. Despencasse um torrão d’água como de março dezanoatráis, barraco na lama e mais um ano de trabalho, hibernado.
O dia não passou pelo buraco e seu Podão sem dormir levanta sem café sem pão e vôa pra charanga destelhada da Usina Santa Lídia álcool e açúcar álcool e açucar álcool e açucar álcool e açúcar álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool, a charanga vai, álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool a charanga arreia.
Seu Podão pega, estica, corta, bate, junta, sem café sem pão, chupa.
Descansa sol a pino.
Seu Podão pega, estica, corta, bate, junta, sem café sem pão, chupa.
Arremessa sol acima.
Seu Podão pega, estica, corta, bate, junta, bucho cheio, garapão.
Fermenta sol batido.
Seu Podão pega, sua, molha, estica, recorta, rebate, espalha; encalha.
Fogo novo sol no chão.
Seu Podão vôa e volta. Cruza a estrada. Barba branca, corpo negro empoeirado, serra a barba com a navalha. Pelo buraco do barraco, seu Podão vê a chuva embaçar a cana, atravessar a estrada e bater em seu telhado. Da noite a madrugada, a água poda seu barro. Seu Podão cruza a estrada pro o outro lado. Na gema doutro mato, reimagina seu espaço.
Pelo arco do mato, sem sala, sem quarto, sem barro, seu Podão vê a máquina decepeira, colheitadeira, corta o feixe, rápido, mais-rápido, potência 1000 homens, 300 cilindros, 1600 cavalos, corta-bate-junta-espreme, corta-bate-junta-espreme, corta-bate-junta-espreme, faz bagaço seu trabalho.
Por aquela rodovia,
um dia,
bandeira passou,
duplicou-se,
uma pista pro futuro, outra pro passado.
Um vai outro vem.
Sob o solo pavimentado,
um dia, uma estrada-barro,
um rio de açúcar.
Hoje homem combustão, carne combustível,
volátil.
O dia não passou pelo buraco e seu Podão sem dormir levanta sem café sem pão e vôa pra charanga destelhada da Usina Santa Lídia álcool e açúcar álcool e açucar álcool e açucar álcool e açúcar álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool, a charanga vai, álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool álcool a charanga arreia.
Seu Podão pega, estica, corta, bate, junta, sem café sem pão, chupa.
Descansa sol a pino.
Seu Podão pega, estica, corta, bate, junta, sem café sem pão, chupa.
Arremessa sol acima.
Seu Podão pega, estica, corta, bate, junta, bucho cheio, garapão.
Fermenta sol batido.
Seu Podão pega, sua, molha, estica, recorta, rebate, espalha; encalha.
Fogo novo sol no chão.
Seu Podão vôa e volta. Cruza a estrada. Barba branca, corpo negro empoeirado, serra a barba com a navalha. Pelo buraco do barraco, seu Podão vê a chuva embaçar a cana, atravessar a estrada e bater em seu telhado. Da noite a madrugada, a água poda seu barro. Seu Podão cruza a estrada pro o outro lado. Na gema doutro mato, reimagina seu espaço.
Pelo arco do mato, sem sala, sem quarto, sem barro, seu Podão vê a máquina decepeira, colheitadeira, corta o feixe, rápido, mais-rápido, potência 1000 homens, 300 cilindros, 1600 cavalos, corta-bate-junta-espreme, corta-bate-junta-espreme, corta-bate-junta-espreme, faz bagaço seu trabalho.
Por aquela rodovia,
um dia,
bandeira passou,
duplicou-se,
uma pista pro futuro, outra pro passado.
Um vai outro vem.
Sob o solo pavimentado,
um dia, uma estrada-barro,
um rio de açúcar.
Hoje homem combustão, carne combustível,
volátil.
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